O ADN Rosé de um Vinho do Porto
Gastronomia e Vinhos
2015-02-10
Não só de Tintos e Brancos vive o Vinho do Porto. Na verdade, uma tonalidade mais suave, mais corante, mais rosada pode, igualmente, encontrar-se num Porto. A vertente mais jovial destes Vinhos do Douro chama-se Porto Rosé.
Chamam-lhe polémico. Herege. Castrador da tradição. Quando entrou no mercado, este Porto Rosé agitou o mundo dos Vinhos mas apresentou-se, também, como uma lufada de ar fresco na estática e hirta hierarquia dos Vinhos do Porto.
Habituados a um sublime Vintage, a um esmerado Tawny, a um prazeroso Ruby, a um apurado LBV, ou até mesmo ao licor de um Vinho do Porto Branco, os grandes amantes e críticos de vinhos olharam para este novo estilo como uma afronta e um prenúncio do fim desta marca do Douro.
O nascimento de um controverso Rosé
Em 2008 nascia o primeiro Porto Pink. Lançado pela Casa Croft, não fosse o vanguardista estilo e ninguém ousaria questionar a qualidade e oportunismo deste novo Vinho do Porto. A Casa Croft é um grupo de renome na produção de alguns dos melhores Vinhos do mundo e vencedor dos mais prestigiados concursos internacionais. Mas era um Rosé… e os puristas não se calaram.
Alguns deles chamaram-lhe logo Ponk, num clara tentativa de não associação do tom rosé a um Porto. Mas no meio de tantos descrentes e incrédulos, muitos foram os que suspiraram de alívio por ver o Vinho do Porto quebrar os parâmetros vigentes. Quase meio século depois da “invenção” do charmoso Late Bottled Vintage (LBV), entrava um novo Porto no panorama nacional.
E internacional! Aliás, este vinho foi primeiramente vendido em Inglaterra. A crítica britânica da especialidade não o aprovou de imediato, mas o feedback foi tão positivo que não deu margem para grandes argumentos.
Este néctar, de tonalidade rosé, frescura inabalável e carimbo de qualidade dos Vinhos do Porto, atrai um público mais jovem e feminino, cuja imagem está teoricamente desfasada daquela que se pode inferir dos tradicionais Vinhos do Porto: maneiras mais conservadoras e de classe alta.
Mas como catalogar este Rosé? Claramente, diziam, não era um LBV, nem Branco, nem Tawny. Acabou por ser considerado um Ruby, apesar do seu nome indicar claramente do que se trata: é um Pink, um verdadeiro vinho Rosé.
Aliando a frescura do Rosé à elegância de um Porto
Foi aposta ganha! A Casa Croft queria surpreender e conseguiu. Após sete anos, o Vinho do Porto Rosé continua a produzir-se e muitas foram as Casas que lhe seguiram o exemplo. Hoje em dia, ainda muitos acham que o Porto Rosé não se deve incluir na tradicional nomenclatura de Vinho do Porto mas, polémicas à parte, este Rosé veio para ficar.
E como se produz? Bem… é em tudo semelhante à produção de um excelente Ruby. Mas com um toque de imaginação à mistura.
Este Porto é proveniente de uvas tintas das tradicionais castas de Vinho do Porto. Mas a sua tonalidade cor-de-rosa dramática conseguiu-se através de uma ligeira extração de cor. Ou seja, ela é obtida através de maceração pouco intensa das uvas. Após a produção, evolui em cubas de aço inoxidável de modo a manter a sua frescura original e evitar uma oxidação demasiado intensa. Está pronto para ser consumido.
E a sua cor seduz: um bonito rosa com nuances rubis. O seu sabor será deliciosamente frutado – sem o ser em demasia –, muito sedoso e de textura fina e suave. É um Porto light, fresco, suave, versátil. Com teor alcoólico elevado. Serve-se bem fresco, a uma temperatura entre os 6.º e os -7.º, num copo alto, com muito gelo.
Este é um vinho que se pode beber em todas as ocasiões, sobressaindo primorosamente como refresco ou aperitivo. Não necessita de adornados cálices. É um vinho social, muito ligeiro que contrasta com a complexidade e intensidade de um Vinho do Porto tradicional. E é este contraste que espanta e lhe fica (e sabe) tão bem!